As casas estão lá, quase todas como antes, mas no fresco da noite já não saem os donos para a frente do portão, agora fechado quase em permanência. Os bidões, já sucata, não se enchem com a água da chuva que passa ao redor da aldeia sem molhar esta terra. A horta secou. Já não há cão junto daquela oliveira.
Estão as árvores... umas ainda a dão as laranjas que agora partilhamos com os pássaros, ou os figos, que vão estando para quem os apanhar.
Ainda temos a lareira para os dias mais frios, agora de fogo acendido ou atiçado por nós próprios. Temos a viga de madeira no teto, daquela árvore imponente que mesmo morta mantém mística a casa, que como tantas outras está agora a hibernar... a ganhar a força necessária para que uma próxima geração venha ver a aldeia a mudar, devagar e despercebida, mas à frente dos seus olhos.
A aldeia cá vai estando, de ruas cada vez mais estreitas, a ver-nos crescer, a ver-nos encher as suas ruas e a fazer-nos chorar pelas saudades dos postigos que usavamos para escancarar as portas, por onde saiam as pessoas que aqui faziam a vida da aldeia.