terça-feira, setembro 10, 2024

Aldeia

A aldeia mudou... as ruas ficaram desertas de pessoas, as portas foram fechadas, os postigos trancados e os sons aprisionados dentro das paredes que acolhem as crianças que não gritam, que não correm e que não pedalam nas suas bicicletas.

As casas estão lá, quase todas como antes, mas no fresco da noite já não saem os donos para a frente do portão, agora fechado quase em permanência. Os bidões, já sucata, não se enchem com a água da chuva que passa ao redor da aldeia sem molhar esta terra. A horta secou. Já não há cão junto daquela oliveira.

Estão as árvores... umas ainda a dão as laranjas que agora partilhamos com os pássaros, ou os figos, que vão estando para quem os apanhar.

Ainda temos a lareira para os dias mais frios, agora de fogo acendido ou atiçado por nós próprios. Temos a viga de madeira no teto, daquela árvore imponente que mesmo morta mantém mística a casa, que como tantas outras está agora a hibernar... a ganhar a força necessária para que uma próxima geração venha ver a aldeia a mudar, devagar e despercebida, mas à frente dos seus olhos.

A aldeia cá vai estando, de ruas cada vez mais estreitas, a ver-nos crescer, a ver-nos encher as suas ruas e a fazer-nos chorar pelas saudades dos postigos que usavamos para escancarar as portas, por onde saiam as pessoas que aqui faziam a vida da aldeia.

domingo, fevereiro 23, 2020

Estrada das cores noturnas

Todos temos uma estrada perto de nós. Uma estrada rodeada de árvores verdes e sábias, onde as curvas apertadas se têm de fazer devagar. Se as condições da tua viagem te permitirem, nesta estrada deves abrir os vidros e eliminar essa barreira sonora que te impede de ouvir o mar. Um dia vais conduzir nessa estrada, de olhos fechados, sem sair do conforto do teu sofá. Nesse dia, e porque os limites dos olhos fechados são determinados apenas pela tua força de vontade, vais viajar de noite. Não vais ver as árvores verdes nem o estuário azul. Mas elas estão lá. As cores estão sempre lá! Sempre lá estiveram, porque sempre existiram. Em momento nenhum da história as cores foram criadas porque sempre existiram. Tu sabes as cores das árvores que te rodeiam, mesmo quando o negro mágico da noite te tira o poder de ver. E talvez, só talvez, esse seja o poder mais importante que tu tens dentro de ti: saber.
Boa viagem! 

terça-feira, agosto 06, 2019

Não tens o direito de mentir!

Não tens o direito de mentir. Não tens o direito de decidir sobre outra pessoa. Não podes iludir, confundir ou enganar quem quer que seja, em nenhuma circunstância! Eu tenho o direito de decidir por mim e o dever de viver toda a minha vida com a consequência das minhas decisões! Tu não podes decidir por mim. Tu nunca podes decidir por mim! Tu não sabes a importância das decisões que tomas em relação a mim. Tu não sabes o impacto que uma mentira "boa" pode ter para todo o sempre. Tu não sabes a dor que podes causar. Tu não tens o direito de decidir por mim! Tu não tens o direito de ter boas intenções!

Tu não me conheces! Tu não podes decidir por mim!

segunda-feira, julho 01, 2019

Rumo a sul

Quando deixas o rio ficar a correr nas tuas costas e segues rumo ao Sul, és contemplado com as planícies alentejanas. Até onde a vista se esforça por chegar, apenas vês terras banhadas de ouro, pelo Sol avassalador que a tudo dá vida, mas sem se conter de tudo torrar.

Melhor do que avistar a planície é ser parte da planície. Entrar no espírito do restolho que ficou para trás, e respirar cada passo que dás pelos campos secos.

À noite, com a brisa, quando o Sol te der tréguas, podes olhar para o céu e contemplar as estrelas lá em cima.

Um dia perguntei de que eram feitas as estrelas... disseram-me que cada estrela era uma pessoa que já cá não estava, mas que ficava lá em cima a olhar por nós. Este é o cemitério mais belo do mundo! Podes viver cada dia, só para desfrutar da vista que tens à noite.

Estás tão longe Alentejo...

quinta-feira, agosto 10, 2017

Tento entender o rumo que a vida nos faz tomar

Posso não concordar, mas quase sempre consigo perceber o porquê. Acredito que tudo está interligado, que tudo tem uma causa e que tudo terá uma consequência, positiva ou negativa. Acredito também que tudo nos leva a dar um passo em frente, e que mesmo as coisas más que nos acontecem, são pontos importantes de aprendizagem, que nos levarão a um amanhã melhor. Se o objetivo não for ter sempre um melhor amanhã, qual é? O nosso amanhã tem de ser sempre melhor e nós próprios temos de ser sempre melhores amanhã.

E eu não percebo... aqui eu não percebo, como é que o amanhã pode ser melhor, sem ti... eu não percebo, como é que um mundo sem ti é melhor do que um contigo... não consigo perceber o porquê de tudo isto... Não faz sentido... Se o objetivo é sempre melhorar, como é que este é o caminho?!



Sei de cor cada lugar teu
Atado em mim, a cada lugar meu
Tento entender o rumo que a vida nos faz tomar
Tento esquecer a mágoa
Guardar só o que é bom de guardar

Pensa em mim protege o que eu te dou
Eu penso em ti e dou-te o que de melhor eu sou
Sem ter defesas que me façam falhar
Nesse lugar mais dentro
Onde só chega quem não tem medo de naufragar

Fica em mim que hoje o tempo dói
Como se arrancassem tudo o que já foi
E até o que virá e até o que eu sonhei
Diz-me que vais guardar e abraçar
Tudo o que eu te dei

Mesmo que a vida mude os nossos sentidos
E o mundo nos leve p'ra longe de nós
E que um dia o tempo pareça perdido
E tudo se desfaça num gesto só

Eu Vou guardar cada lugar teu
Ancorado em cada lugar meu
E hoje apenas isso me faz acreditar
Que eu vou chegar contigo
Onde só chega quem não tem medo de naufragar

Cada Lugar Teu, Mafalda Veiga

quinta-feira, janeiro 12, 2017

J

Tenho saudades tuas. Tenho saudades da vida que não vivemos juntos. Tenho saudades de sonhar contigo, sobre ti e sobre nós. Tenho saudades de te imaginar. Tenho saudades daquele desejo de estar contigo.Tenho saudades dos nossos planos. Tenho saudades da tua personalidade. Tenho saudades de descobrir a tua personalidade. Tenho saudades de te ver. Tenho saudades da vontade de te apertar. Tenho saudades de te proteger. Tenho saudades das vezes que não demos as mãos. Tenho saudades da vida que tivemos. Tenho saudades de te ajudar a crescer. Tenho saudades de crescer contigo. Tenho saudades da vida que não temos mais... Tenho saudades tuas...

domingo, agosto 23, 2015

Casa

Casa é para onde tu voltas, nem que seja em sonhos... Casa é sempre o teu derradeiro destino, mesmo que à noite a estrada te conduza na direção oposta. Casa é onde reside a tua vontade de estar e de ficar. Casa é onde tens as raízes que lançaste. Casa é onde sorris à chegada.

Qualquer que seja a tua volta, casa, é onde regressas sempre. Sejas um bom filho ou não, casa é sempre para onde retornas.

quarta-feira, janeiro 14, 2015

Árvores falantes

Hoje, uma óptima notícia poderá vir a agoirar a alimentação de muito boa gente. Um estudo da universidade de Grenoble (França), demonstrou que as árvores fazem barulho quando ficam sem água. Já se sabia que as plantas avisam as vizinhas quando são atacadas por parasitas, mas esse meio de comunicação é pouco "humano". Normalmente, as plantas comunicam por feromonas e, apesar de nos também comunicarmos connosco próprios usado este tipo específico de hormonas, a verdade é que não o sentimos. Agora, está demonstrado que as árvores, tal como nós, emitem som, e este é um dos principais meios de comunicação que nos temos. Já tem vindo também a ser demonstrado que as plantas "sentem" e que um galho partido inflige "dor" à planta.

Ora agora, basta que alguém mais hippie junte um mais um, e crie todo uma forma de alimentação baseada em não se comer plantas porque elas sofrem e ainda por cima queixam-se. Aguardo ansiosamente pelos próximos episódios :)


Trees Make Sounds When They're Running Out Of Water, Lab Experiments Suggest

quinta-feira, janeiro 08, 2015

Charlie Hebdo

Sou ateu. Sou contra à violência, de uma forma consciente, porque decidi que queria ser contra a violência. Isto não faz de mim um pacifista radical que "luta" contra as injustiças no mundo... Faz-me apenas viver sem incentivar comportamentos violentos. Tendo isto em mente, repudio a 100% os atentados de Charlie Hebdo. Confesso que ao ouvir na rádio a notícia do que estava a acontecer, pensei logo que «quem brinca com o fogo queima-se»... mas o pensamento foi-se embora tão depressa como a faísca que lhe deu origem. Por muito má que a brincadeira possa ter soado, tomar uma atitude tão brutal e definitiva deixa-me petrificado.

Eu não sou Charlie, mas partilho a sua causa... E todos a devíamos partilhar, porque o mundo continua a precisar de lições de bem e de mal...

quinta-feira, setembro 25, 2014

Fugir pela Janela

É estranho pensar que esta pode ser a última vez que desligas a luz e que espreitas pela janela que se mantém firme sobre ti. Quantas imagens podemos gravar para sempre na nossa memória? Na última vez que olho pela minha janela o mundo oferece-me um presente, uma vista mais bonita ainda. A chuva que empurrou o verão para outro lugar, fez nascer erva verde no terreno em frente, mas o frio da noite, ajudou a criar um nevoeiro místico e sombrio.

E as saudades? Será que alguma vez me vou lembrar do cão que ladra na casa da rua em frente? Quanto tempo vai passar até eu sentir falta desse ladrar pesado, de cão maduro e já um pouco cansado?

Os pés parece que ganham chumbo... não pela inércia de caminhar face às próximas etapas, mas sim uma aversão por perder o que tenho. O mundo lá fora avança, e a vista da janela mudará sem que a veja a mudar... Vou ter claramente saudades de viver onde me conheço suficientemente bem para que o terreno possa ser apalpado de olhos fechados. Até as árvores têm pena quando se mudam, tanto que sempre que podem, lançam raízes profundas pelo solo, para ali ficarem prezas para sempre e quando as cortam, há-de lá ficar sempre um pouco da sua marca, nem que seja a ponta da raiz.

Inspiremos novamente o ar que vem da janela...