segunda-feira, julho 29, 2013

Refugio

Apetece-me sair. Levantar-me da cadeira que se acomoda diante da mesa, que se quieta sob um chapéu de sol, em plena noite de Verão. Levantar-me do sofá que se instalou em frente da televisão, que se aviva com as cores do filme que é lido no leitor, que se adormeceu no móvel da sala. Apetece-me virar costas e sair. Deixar para trás quem quer ficar lá atrás. Deixar sentado quem sentado está. Deixar quem está onde quer estar. Apetece-me correr pela noite amena, voando na brisa suave que levanta, num sopro arrepiante, os pelos dos braços.

Apetece-me conduzir, no carro preto, a estrada coberta de alcatrão escuro, nesta noite de lua ausente, até à serra sombria que chama junto ao mar que negro está. Apetece-me pisar a areia e contemplar o escuro do rio, a ondular no sombrio areal deserto. Apetece-me unir-me aos meus pensamentos, sozinho, fechado nesse fluxo constante de ideias sem nexo, procurando um caminho que talvez não exista. Sinto-me morto e apetece-me reencontrar-me. Apetece-me saber qual o meu novo lugar na equação, mantendo-me num canto escuro. Sou um cobarde! Preso na minha caverna a olhar para a noite lá fora, de rabo entre as pernas. Com medo de sair de novo, acreditando que posso ser parte do que não sou.

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