sábado, agosto 28, 2010

Geocaching

A palavra não me é nova, mas ganhou outro significado para mim. Conheço a actividade há alguns anos, talvez dois, mas estive sempre na sombra do jogo. Fiz algumas investidas para procurar alguns dos tesouros escondidos nesses fantásticos lugares desconhecidos, mas sempre em vão. Como um fio de água a correr do tecto durante anos, caindo sem fazer mossa, acaba por criar uma estalactite, não desisti (apesar de em algumas buscas ter-me decidido a faze-lo) e ontem encontrei o meu primeiro tesouro.

Bicicletas prontas, com um bebedouro cheio de água, mochila ás costas, óculos de sol para tolerar o sol e energia para o caminho. Meta: Rio frio. A ida não foi para procurar a cache, foi para aproveitar duas horas de sol na rua enquanto libertava a energia que se acumula nestes dias de férias em que nada faço para alem de pensar no que poderia eu fazer para me entreter. Os 13 km até lá não são os mais cansativos que já fiz e o terreno é quase plano, mas as rectas grandes não ajudam...

O Rio Frio estava na mesma. Depois do cruzamento que delimita a chegada o cenário reconstrói-se, passem os anos que passarem. A estrada fica cheia de buracos, os sons da natureza predominam e a vida humana escasseia. As pedras que formam os paralelos, gastos pelo tempo, são o sinal de que aquele já foi um lugar movimentado, mas a calma deixa bem claro que não temos mais de nos preocupar com os carros que possam vir em contra-mão. A estrada é nossa!

O palácio é a única coisa conservada ali. Não me lembro de como era no passado, mas mentem o mesmo aspecto bem tratado desde que tenho memória, como se os anos lhe passassem ao lado. Um ou outro carro estacionado mostra que ainda há pessoas por perto, e a imagem confirma-se por dois ou três vultos que saem do café no fundo da única rua longitudinal do Rio Frio. Contei as ruas que vi no Google Earth: Viramos na primeira transversal após a rua principal. Não, o meu irmão, que me acompanhou na viagem, quis virar mais cedo, para ver de perto o palácio. Enquanto ele comenta os preços que devem custar as noites ali, já eu faço o reconhecimento. Apenas pode ser ali, se é nas duas uma, as duas têm de ser aquelas. A bicicleta fica encostada ao lado de uma parede e a busca começa.

Há sinais de outras passagens por ali. À volta das duas, o mato está pisado. Sim, tem de ser ali. Começo pela menos óbvia. Está muito visível e com poucos esconderijos. Dou uma volta lenta e cuidada. Nada! Sigo para a segunda. A volta é ainda mais lenta de tanta a camuflagem. Sei o tamanho daquilo que procuro e procuro bem. Nada. Volto atrás e analiso de novo o ambiente. Respondo nada a mim próprio quando me pergunto quais outras duas poderão ser se não aquelas. Concentra-te, tem de ser esta e tem de estar aqui, ainda ontem foi vista. Após dar mais duas voltas na segunda em sentido contrário volto à primeira. Terei visto mal? Nada. Rogo pragas, decido comprar um GPS e desistir do geocaching. O meu irmão chama-me... Corro até à voz dele, uma vez que já não o vejo. Bolas, ele encontrou primeiro que eu... Falso alarme: um recipiente amarelo abandonado mostra a presença de alguém que se livrou do lixo aqui. Passa-se o tempo e ele afasta-se para as bicicletas. Desistiu. Estou quase a desistir quando de súbito olho para aquilo. Penso em move-lo enquanto algo me diz que não vale a pena, não vai estar ali. Não, tenho de tentar. Miguel, lembra-te a cache tem de estar escondida, move aquilo. Movi... Tal como nas outras vezes em que movi algo à procura da cache estava à espera de ver nada. Por breves instantes, estava mesmo a ver nada. Hei, há algo de verde aqui dentro? A fazer o que? Hei, isto não pertence ao cenário. Ups, achei? É isto? Chamo o meu irmão, enquanto um muggle passa de moto 4. Encontrei-a! Levo-a para ao pé das bicicletas, tiramos fotos e exploro o seu conteúdo. Assino o registo depois de ver um pouco do que já foi escrito, esta já foi a primeira de outras pessoas. Tanta criatividade: Há quem tenha um carimbo para loggar o achado? Bolas, não tenho nada para deixar em troca...

Guarda-se tudo de novo onde estava. Tapa-se com o que a natureza deixou cair por ali, de forma a que o tesouro não se revele a quem não o procurar e monto-me na bicicleta para voltar a casa. Há muitos tesouros na vida e a partir de agora eu sei de mais um. Descobri algo e apesar de não ter qualquer tipo de valor, fico contente. Pesquiso no site por outras que possam ser encontradas e considero-me um jogador deste jogo de achados. Mesmo que esta seja a última que encontre, uma já eu encontrei.

Cache: Cold River - P.Novo