terça-feira, novembro 22, 2011

Uma história vaga

Não consigo ao certo contextualizar o acontecimento, mas sei que foi perto de Dezembro de 2001.

Numa cómoda cujo paradeiro já desconheço, aguardava uma aparelhagem que já quase não é ligada, que um CD fosse depositado em cima do tabuleiro próprio para CDs. Enquanto o tabuleiro recolhia, os olhos percorriam a lista de músicas à procura da música a ser tocada, ao mesmo tempo que a operadora chamava pelo pai. Ao pai, com o seu bigode de Astérix, foi perguntado se era possível ficar-se indiferente àquela música.

Na verdade é impossível não melhorar o astral quando se ouve a Aljubarrota dos Quinta do Bill.

Sou de um tempo em que depois de jantar, atravessávamos o rio, rumo a cascais só para se fazer serão na companhia de outra família. Sou de um tempo, em que, apenas porque sim, a família se reunia toda e que eu ficava muito triste sempre que chegava a hora de voltar para casa. Sou de um tempo em que corria escadas acima para ouvir histórias infantis, sentado no chão, com toda a atenção que me era possível.

Infelizmente, sou ainda do tempo em que uma voz muda chamou por quem a imaginou ouvir, fazendo com que tudo desse, aos poucos, porque as mudanças querem-se calmas, uma volta abismal. Dois anos são suficientes para muitas mudanças e para que se percam hábitos antigos. Triste é olhar para trás e recordar-me de momentos que ao olhar para o presente sei que nunca os voltarei a viver no futuro. Não só porque a criança que ouvia a história cresceu, mas porque ao subir as escadas já lá não está ninguém para a contar, e se estiver, não estará da mesma forma que estava antes.

A distância é tão grande como esticar o braço e chegar ao telemóvel que aguarda o meu toque em cima duma mesa, mas a inércia tem a distância de um continente.

(Suspiro) como o crescimento e a mudança doem...

sexta-feira, novembro 18, 2011

Músicas sem sentido - Página em Branco de Jorge Palma

Há músicas que tocam no rádio e as quais até me podem ficar no ouvido, mas quando se ve a letra, percebe-se que aquilo não passa da uma coisa sem pés nem cabeça.

Um bom exemplo é a música Página em Branco de Jorge Palma, que anda agora a tocar nas rádios. Nesta música, o compositor fala do seu drama em escrever, porque por mais que tente, nada lhe vem à cabeça, um drama que na minha opinião já foi contado e recontado mais vezes que as necessárias. Ainda assim, reparem em certos excertos da música...

Tenho uma página em branco e uma guitarra na mão
ando nisto há quatro dias e não me sai a canção
os cinzeiros já não chegam tenho que os despejar
pensei que um copo de vinho pudesse vir a ajudar


Sempre detestei rimas forçadas, e aquela história de despejar os cinzeiros apenas está ali para rimar com o ajudar do copo de vinho. Despejar ou não os cinzeiros, nada tem a ver com o tema da música... que o homem os tenha enchido, até percebo, mas escusava de nos dar a sua lista de "a fazeres"... apenas o faz para rimar. O mesmo, na rima em baixo, em relação ao crocodilo:

mas só fico atordoado sinto o vapor a subir
imagino um crocodilo estupidamente a sorrir


... um crocodilo estupidamente a sorrir?... Sem comentários!

(...)
neste grande espaço em branco só te quero dizer
nannanan
gosto de ti


Nannanan, gosto de ti?!?! A sério?!?! Mas ele está a falar com um bebé? A passagem do drama da escrita para a declaração romântica é tão drástica que isto só pode mesmo ser o resultado de um grande vazio intelectual. Se o autor deste tema se decide falar do seu drama na escrita, porque raio há-de passar isso para o plano sentimental... Ok ok, ele pode falar do drama de escrever letras românticas, mas então que enriqueça um pouco melhor o texto, porque isto é caótico!

tenho uma página em branco e sinto a barba a crescer
há tanta coisa a tratar há tanta coisa a aprender


Um ponto favorável... A barba a crescer dando a ideia de tempo a passar e ainda nada escrito naquela fatídica página em branco, mas logo depois o que é que há a aprender? Sim, eu sei que nunca alguém saberá tudo, mas neste caso em concreto o que é que há a aprender? A resposta é simples, aquele aprender foi ali colocado para rimar com o crescer, portanto este músico terá de aprender a escrever letras, não?

Acho que neste caso, tínhamos ficado melhor com a página em branco...



Ps: A música foi copiada integralmente de um site de letras de música. Optei por não lhe colocar a pontuação em falta.

terça-feira, novembro 15, 2011

Senhor, não será melhor…?

Cada vez mais, a tecnologia vai tomando conta de nós, de uma forma tão peculiar que nem nos apercebemos de que estamos rodeados dela. As opiniões, como sempre e porque há gregos e troianos em qualquer assunto, dividem-se. Uns dizem que é bem-vinda e que nos ajuda, outros afirmam que nos estupidifica.

Sou do tempo em que não havia Internet, pelo menos, sou do tempo em que as pessoas comuns não tinham acesso a ela. Na primeira vez que naveguei na Internet, fui barrado de entrar no portal do SAPO porque em vez de http://www, escrevi apenas www. Foi um erro de iniciante, que actualmente já não é cometido. Qualquer browser sabe agora reconhecer estes erros e corrigi-los. Hoje, para entrar no portal do SAPO, não ponho http, não ponho www, nem sequer digo que é .pt: simplesmente escrevo sapo na barra de endereços e o meu navegador, navega (claro está) de forma quase inteligente neste mundo mágico para me transportar ao meu destino.

O mundo dos facilitismos não acaba aqui. Se o gigante Google antes me perguntava se eu não estava errado, agora assume que eu estou errado. Para pesquisar aquilo que quero pesquisar, tenho de lhe dizer, não amigo, não me enganei e era mesmo aquilo que eu queria procurar. Ele agora toma a iniciativa de alterar a minha pesquisa para me dar aquilo que ele “pensa” que eu quero. Pior do que ter um computador a assumir a minha vontade, é te-lo a adivinhar o que pretendo. Ao pesquisar no Google, ainda mal escrevemos uma letra e já ele adivinha a palavra. Com aquela palavra escrita, sugere frases completas. Pior ainda, está o iPhone, que opta constantemente por alterar as palavras escritas sempre que pressionamos a barra de espaços.

A ficção científica explorou por muitos anos a ideia de máquinas a controlar a humanidade. Não num extremismo tão elevado como aquele que é transmitido nos filmes, mas a verdade é que isto já se sente. A minha liberdade está a ser limitada por um motor de buscas ou um aparelho que decide, ou "pensa" que decide, o que eu quero ou não fazer, idealizando quais são as melhores páginas para mim, pondo para trás tudo o que lhe parece desnecessário. Acedo talvez, mais facilmente a informação relevante, mas primeiro tenho de convencer o computador que me deixe procurar o que efectivamente eu quero.

A sociedade não se pode reger por um facilitismo absoluto e incondicional, em que numa letra, o trabalho está feito. Como dizem os Quadrilha, que não haja mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe, para que possamos viver e continuar a aprender, pois apenas com esforço é que se aprende.

segunda-feira, novembro 14, 2011

Haja patriotismo!

Quando passei a ir diariamente para Lisboa, já lá vão alguns anos, sentia que tinha tudo acessível e, para cada necessidade minha, tinha uma loja próxima onde a podia satisfazer. Para além de toda esta acessibilidade, foi notório que mesmo as mais pequenas coisas estavam bastante longe, no que toca à acessibilidade financeira. Os 40 minutos que separam Lisboa de minha casa, foram suficientes para que eu sentisse que o custo de vida era mais elevado. Não demorou muito tempo para que eu percebesse que um simples beber água podia ser mais difícil do que seria de imaginar à primeira vista. Andei durante bastante tempo com garrafas de plástico atrás, porém, facilmente me esquecia delas em casa.

Recentemente, surgiu no nosso mercado uma gama de garrafas para água da marca SIGG. Por trocarem o plástico pelo metal, mantêm facilmente a água em condições de serem consumidas, pelo que este problema foi prontamente ultrapassado, até porque adoptei a minha SIGG como a minha garrafa e passei a andar sempre com ela. Para além de resolverem problemas de pessoas como eu, a SIGG fascina-me pelo seu patriotismo. Em todas as garrafas, ve-se escrito, numa das faces o logótipo da empresa, enquanto na face oposta, é bem visível a expressão Swiss made (fabricado na suíça). Não se trata de um simples made in (que se encontra no rótulo, em baixo), mas sim de algo mais. Um orgulho em dizer que este produto de qualidade foi fabricado naquele país.

Olhando para nós, povo português, não podia constatar uma realidade mais diferente daquela que me chega do povo suíço. Actualmente, com uma crise financeira instalada, chovem dos média, campanhas de sensibilização para que as pessoas comprem produtos nacionais. Frases como “o que é nacional é bom”, são ouvidas, lidas e ditas, desde que me lembro de ser eu e muita gente há que diz a quem o queira ouvir que só confia em produtos nacionais. Lamentavelmente, isto não é o reflexo da nossa realidade, e a prova são as importações cada vez maiores.

Tenho plena confiança naquilo que é do meu pais, o mesmo país que há séculos navegava por mares desconhecidos, enfrentando perigos para descobrir mais desta esfera habitável. Muitos se queixam que perdemos a força, outros que não podemos viver agarrados àquilo que fomos e eu sou levado a concordar com ambas as ideias. Todavia, a forma como encaramos o presente depende apenas de nós mesmos, e enquanto nós não reconhecermos a nossa própria força, não conseguiremos ir mais além. Nós somos os melhores, só falta acreditarmos nisto e deixarmos a sombra da bananeira! O Quinto Império é tão possível hoje, como era quando foi idealizado, só falta mesmo acreditar…

domingo, novembro 13, 2011

Mudança - Parte I: A percepção



Vivo numa era de mudança. Há 17 anos que me mantenho numa rotina muito específica. Pela primeira vez estou a deixar de ser estudante. Procuro por ofertas de emprego, das quais poucas são realmente interessantes. Dou por mim com esperanças de ser chamado a uma entrevista de um emprego que não quero. Saio das entrevistas desmotivado, não por a entrevista ter corrido mal, mas porque eu não quero aquilo. Vivo agoniado e sempre a pensar nos “ses” de cada escolha que aparece à frente.

Pela primeira vez encaro uma nova realidade, cheia de incertezas. Nenhuma possibilidade me parece suficientemente boa e sinto que tenho de as aceitar, queira ou não queira. A ver vamos onde este estado me leva!

sábado, novembro 12, 2011

Excesso de zelo...

A Microsoft sempre tentou tratar com paninhos quentes os seus clientes. Esta empresa produz aquele que será à partida o sistema operativo mais simples de utilizar e o mais conhecido, o Windows. Desde sempre que o Windows trata o utilizador como se ele nunca soubesse o que está a fazer, talvez um pouco para não alarmar aqueles que o usa.

Uma das grandes vantagens do Windows, é a instalação de programas. Qualquer criança sabe que basta abrir o ficheiro de instalação e premir o botão de continuar, avançar ou confirmar, até que o programa esteja operacional. Caso no final do processo o programa não abra, bastará reiniciar o computador e num ápice, a magia aconteceu.

Porém, nem tudo é assim tão fácil e já nem isto é propriamente uma verdade. Se antes o Windows já era chato para coisas simples como apagar documentos («Tem a certeza? Mas tem mesmo a certeza? Olhe que será definitivo! Se calhar é melhor enviar só para a reciclagem e depois pensa melhor... Mas é mesmo para apagar a reciclagem? Pense lá duas vezes...»), agora até para instalar documentos o raio do sistema pensa que sabe mais do que eu.

Se eu abro um ficheiro de instalação, numa sessão com permissões de administrador, porque raio o aparelho me tem de perguntar se eu tenho a certeza que quero o ficheiro a correr? «Não, afinal não quero, era só para ver se estavas atento».