terça-feira, janeiro 28, 2014

Janela

Quase não se nota a hesitação que antecipou a abertura da Janela.
- Valeu a pena? - pergunta a minha consciência.
- Sim, - respondo sorrindo apaixonamente - dá para sentir o vento fresco a bater na cara.

quarta-feira, janeiro 15, 2014

9%

Há muito tempo que não fazia um post com conteúdo político, mas sinto-me forçado a escrever um. Ontem saíram os resultados dos projectos a bolsa de investigação com financiamento da FCT. Ontem foi divulgada uma espécie de carta de rescisão colectiva a diversos investigadores em Portugal.

Num efeito dominó, causado não só pela calamidade divulgada ontem, mas também pela calamidade que temos vindo a assistir nos últimos anos, considero que a investigação em Portugal está a correr grandes riscos. Considero que este será um dos períodos mais negros da nossa história científica.

Cada bolsa de pós-doutoramento que foi negada, é uma machadada em projectos que poderiam abrigar investigadores de grau académico menor como licenciados ou mestres... é um lugar que fica vago nas universidades e centros de investigação que têm apenas este meio para expandir o seu conhecimento científico. Cada cadeira que fica vazia é preenchida pelo silencio impune provocado pelas bocas que deixam de partilhar o conhecimento e de trazer inovação... E cada bolsa de doutoramento negada, é só uma machadada que se dá com quatro anos de antecedência.

É a ciência que trás a inovação e a tecnologia. É a ciência que alimenta um povo que produz menos comida que aquela que consome. É a ciência que cria as respostas para as perguntas que desconhecemos. É a ciência aquele ramo que nunca deixa de procurar e que nunca deixa de tentar. Acabe-se com a ciência quando se quiser acabar com o progresso, porque nunca na história foi possível progredir sem investigar, sem conhecer e sem desenvolver.

Em Portugal estamos a assistir a um dos maiores ataques à ciência alguma vez visto.

O que ai vem não é famoso e apesar de directamente ainda não me tocar, a perspectiva de não me ver num dos futuros que poderão existir, é agoniante.

Um dia percebi que nós, investigadores, éramos heróis. Que vivíamos com condições de trabalho precárias, sem direito a qualquer subsidio ao final de anos com bolsas de investigação. Que vivíamos num estado em que o direito à greve é uma ilusão dado que trabalhamos por objectivos. Que somos uma espécie de freelancers algemados a um contrato de exclusividade mal pago. E que mesmo assim somos os melhores, e que mesmo assim fazemos pela primeira vez algo que nunca ninguém fez, e que todos os dias levamos para um pouco mais longe aquelas que são as barreiras do conhecimento.