segunda-feira, abril 29, 2013

Ir

Levem-me para onde o silêncio é o único som que se ouve, para que me possa deitar a contemplar o candeeiro de pontinhos brilhantes que se instalou por cima de nós.

Por vezes surge a vontade de saltar a janela e fugir. Fugir não de uma prisão, porque preso não estou, mas para uma liberdade mais envolvente, mais quente e mais acolhedora. Saltar a janela apenas para ficar logo envolto no meu novo reino, sem ter de aumentar a espera para contornar a porta.

Será a mesma imaginada voz que chamou Cote para o poço que inicia a subida ao serro do nome do rapaz, a voz que me chama a mim para a rua? A ser, desta vez, será certamente para me levar a um sítio melhor...

Conduz, sai dessa luz artificial e vem para o escuro da serra, para a brisa do mar, para a luz das estrelas. Vem... vem respirar o mundo a cada inspiração.


Relembro para aqueles que se já esqueceram e invoco aos que desconhecem: Serro do Cote

sexta-feira, abril 19, 2013

Pára, aumenta o som e volta atrás...

... Acabaste de mergulhar numa onda ritmada de sensações. Sustem a respiração para viveres num momento de puro êxtase criado na playlist que toca no fundo. Nada de braços no ar ao som da vibração que te embate no ouvido. Fecha os olhos ao cloro que te poderia entrar e trazer de novo para o mundo. Sorri, para mostrar o desejo que vives...

E quando a música acabar, abre os olhos e prepara-te, porque a seguir a cada onda, uma nova onda vai-te submergir.

domingo, abril 14, 2013

Liberdade opressiva

Procuro no telemóvel por de quem já eu não sei há um período de tempo considerável, para compensar uma presença anunciada que se deveria querer fazer sentir.

Estou por minha conta, envolto numa liberdade forçada que me prende a boca como se esta nunca pudesse ser aberta, nunca tivesse sido aberta e não se voltasse a abrir nunca mais.

Acalma-me o piano que geme harmoniosamente a cada toque da pianista que o guia. Pudesse eu ser um grão de pólen para partir, de olhos fechados, onde me levaria o ar que transporta cada partícula sonora que me serena do suicídio em que me encontro. Fosse eu pólen de ouvidos para não deixar de ser guiado por este som.

Preso a uma cadeira na qual ainda não estou sentado, a lutar para não gritar... a lutar para não lutar. A lutar para ter paz. A lutar para não perder a razão num imaginado mundo sem razão.

Olho para o outro à procura da minha utilidade, de um caminho que me possa levar para fora, para longe da ideia da premonição, para longe daquilo onde me querem, mas onde eu deixo de ser.

Percorro um túnel de morte, escuro, triste, amargo, oculto, que me leva, não para o conforto do descanso, mas para mais um episódio de flagelação.

Torno-me um zoombie num culto de amor doente, opressivo e apenas incondicional dentro das regras que o condiciona.