sábado, dezembro 28, 2013

Além... a seguir... depois... acolá... só lá ao fundo... é que podemos parar

Não me considero muito exigente. Mas é verdade que gosto das coisas bem feitas. Por vezes, por vontade, ou por incapacidade, a obra feita não é perfeita, mas terá seguramente um rácio muito bom entre a qualidade desejada e o esforço gasto.

Hoje estava por aqui a divagar nos meus pensamentos e lembrei-me de ouvir, a um propósito qualquer, que agora pouco interessa, alguém criticar uma terceira pessoa por ser "demasiado exigente".

... e porque não?

Porque razão deveremos nós, de forma consciente, não pedir mais? Se podemos pedir, e quem sabe mesmo ter a perfeição, porque ficar apenas e somente pelo satisfatório? Ao darmos tudo o que é de nós, todos os dias, não chegaremos amanha a um porto de abrigo mais seguro? Era essa a mensagem do conto dos três porquinhos: aquele que mais se esforça, melhor vive o amanhã. Mais feliz consigo próprio, mais confortável com as conquistas que fez, mais maior... sim, mais maior!

Eu sempre quis ser mais... sempre quis viver mais... e quase sempre senti que podia ter vivo mais... e continuo a querer mais, principalmente quando posso querer viver, ter, sentir, desejar, ..., mais!

E não sou louco, nem lunático, e não se atrevam a chamar-me de demasiado exigente! Isso existe tanto como existe um castelo de areia a proteger um sapo azul que se transformará em Rapunzel quando o lobo deitar abaixo a casa do terceiro porquinho! Nada disso existe... aquele que me acha um louco ou demasiado exigente é demasiado comodista e viverá certamente no mundinho, fechado pelos ventos de que são feitas as muralhas do reino de Mordor... porque dentro da sua loucura de certeza que as histórias podem ser reais...!

domingo, dezembro 01, 2013

Going All In (transcrição)



Original em http://www.youtube.com/watch?v=ZiFdHPzxluU por Bryarly Bishop

I often feel what my dad used to call the "the restlessness."
This feeling grabs you, spins you, and straps you in for a ride.
Have you ever been really, really late to something important and gotten stuck in traffic?
That angry despair, that fearful, paused potential, that helplessness -
That's the restlessness.

It's sparklers under my skin, motors thrumming through my knees
But quicksand sucking at the soles of my feet.

This compulsion to move forward isn't frightening, it's frustrating,
Because my humanity is maddening.
I am limited by the bonds of my mortality.
I'm a fighter pilot strapped to a kite
A wet match dreaming of dynamite.

Everything I could ever accomplish, everything I never have
Is beating against the iron will I inherited from a long line of thickheaded Southerners
From pioneers with a penchant for straying
From ancestors, long dead, who live a breath every time someone says their name -
But means me instead.

The world is my oyster, and I'm not afraid to shuck it.

So, fuck it.

When anxiety is sifting you through a sieve, separating the joie from your vivre,
Remember that you are rocking your existence.
No one in the history of the universe has had the courage to live your life
You're the very first - the Neil Armstrong of your birth.

And I'm not gonna tell you that if I can do it, you can do it, too.
I'm bearing the burden of being me
You're carrying the cross of being you.

Death stopped scaring me when I asked him to hang out and he said no.
What gives me nightmares is the fear that I'm moving too slow to keep up with life
Which I suspect moves just like light.

No matter how fast I go, I'll never catch up.
But I am willing to spend the rest of my statistically likely 57 years chasing after it,
Throwing myself, straining, jumping, leaping forward
Going after it like a dog at a speeding car.

Life is one hell of a pot - and I'm going all in.

So don't you dare fold, or I'll have no one out here to play with.

quinta-feira, novembro 14, 2013

Despedidas

Posso-te contar uma história?

Inventemos uma lareira, porque todas as histórias são bonitas se tiverem uma lareira. Coloquemos chuva a bater no vidro, porque o drama acentua-se quando o tempo lá fora reflecte o mesmo que se sente cá dentro. E claro, que se ponha o Sol atrás da serra que se vê no horizonte desta planície. Na mesa de madeira, porque de madeira deviam ser feitas todas as mesas que se abrigam em casas acolhedoras, quatro pessoas jantam da comida fumegante. Do nada, Maristela faz ouvir "hoje fui ao cemitério". Todos sabemos a que campas se dirigiu Maristela, todos sabemos pelo que é que ela passou e todos sabemos que ela ainda não conseguiu superar o que se passou. Samara e Deonilde questionam "porque é que foste lá? devias tentar superar isso"... e foi isso mesmo que Maristela fez. Pela última vez, foi-se despedir... a despedida foi tão forte que sem qualquer emoção na voz, Maristela esclarece que "nem do carro saí... fui só lá!"

Que saudades causam as coisas que deixam de existir da mesma forma como as conhecemos, depois de as termos conhecido...

domingo, outubro 06, 2013

Caminhos perdidos

É fácil deixar alguém para trás. O caminho é longo demais para esperar... o tempo é curto demais para se poder parar para falar, para explicar, para ouvir. É mais fácil seguir, por entre o pó que se levanta a cada pisada que damos.

E lá atrás, esquecidos, ficam os que decidiram não andar em frente ao nosso lado... ou os que apesar de quererem não conseguiram. Não interessa o motivo que os deixou ficar lá atrás... não interessa saber quem ficou lá atrás... não interessa sequer saber que ficou alguém para trás...

domingo, setembro 08, 2013

Grito de derrota

Sou um discrente. Não acredito em derrotas silenciosas. Uma derrota leva sempre a um grito de raiva. Qualquer que seja a mesa de onde nos levantamos, se o levantar for causado por um desconforto, aquilo que está em causa não é o silencio com que agimos, mas qual das vozes usamos para libertar o grito. Entre o sair de gritos sonoros expulsos por pulmões destroçados e o sair com gritos silenciados pelo cranio que nos esmaga o cerebro pensante, apenas e somente muda a aparência exterior do nosso sentimento.

Lá dentro... cá dentro, a vontade de perder a cabeça vive gritemos mudos ou exuberantes. Cá dentro, resta uma réstia de vingança por matar.

quarta-feira, julho 31, 2013

Viajante de destinos ocos

Quem és tu, perseguidor de sonhos? Quem és tu, ó viajante caixeiro de mochila nas costas casadas, sem rumo e sem caminho? Não anseies por chegar ao destino que nem tu sabes qual é. Se te conduzes no sabor do vento, o teu porto de abrigo pode estar tão perto ou tão longe como o deserto que te matará de sede. És tu quem tem de calçar os sapatos e correr pela estrada. É a ti que é imposta a missão de construír a tua cabana junto à praia. O que esperas tu? Arregaça às mangas. Constrói algo mais que mesas para refeições rápidas. Constrói algo permanente. Pisa com força o chão que se ajoelha perante ti e marca para sempre a tua pegada num dos mundos que vivem para que tu possas vive-los.

segunda-feira, julho 29, 2013

Refugio

Apetece-me sair. Levantar-me da cadeira que se acomoda diante da mesa, que se quieta sob um chapéu de sol, em plena noite de Verão. Levantar-me do sofá que se instalou em frente da televisão, que se aviva com as cores do filme que é lido no leitor, que se adormeceu no móvel da sala. Apetece-me virar costas e sair. Deixar para trás quem quer ficar lá atrás. Deixar sentado quem sentado está. Deixar quem está onde quer estar. Apetece-me correr pela noite amena, voando na brisa suave que levanta, num sopro arrepiante, os pelos dos braços.

Apetece-me conduzir, no carro preto, a estrada coberta de alcatrão escuro, nesta noite de lua ausente, até à serra sombria que chama junto ao mar que negro está. Apetece-me pisar a areia e contemplar o escuro do rio, a ondular no sombrio areal deserto. Apetece-me unir-me aos meus pensamentos, sozinho, fechado nesse fluxo constante de ideias sem nexo, procurando um caminho que talvez não exista. Sinto-me morto e apetece-me reencontrar-me. Apetece-me saber qual o meu novo lugar na equação, mantendo-me num canto escuro. Sou um cobarde! Preso na minha caverna a olhar para a noite lá fora, de rabo entre as pernas. Com medo de sair de novo, acreditando que posso ser parte do que não sou.

domingo, julho 28, 2013

Oposição

Há aqueles que se calam e há aqueles que calados ou falando, atropelam os outros. Há uns que viram costas e se vão embora e outros há que se deixam ficar como se fosse impossível algo abalar a sua quietude.

Nunca estamos bem com os outros. Nunca aceitamos bem os outros. Ora professamos uma fé evangelizando os outros com uma cruz e uma espada, ora colonizamos povos tribais enforcando-os nos cabos do progresso tecnológico, ora invadimos aqueles cuja politica diverge da nossa. Somos perfeitos a errar e a falhar. Somos os melhores a ter uma opinião e a defende-la contra tudo e contra todos, sempre para erguer a nossa bandeira, qualquer que seja a raça, a nação, o país, a religião ou a ideologia que se inscreva na bandeira.

segunda-feira, julho 01, 2013

Só ficar

Não queres subir ao telhado, para abraçar a noite e contemplar as estrelas?

No calor do sopro do vento que arrefece a noite já amena, podes escutar, com prazer, o grito mudo da paz que se instala em ti. Vives paz sempre que te transformas em sorriso.

No fundo, o universo sabe retribuir-te aquilo que lha dás: um sorriso pelo conforto da paz, determinação por um mundo de árvores e esquilos, curiosidade por oceanos de água serenas e aves sonoras... e das-lhe amor em troca de amor e vida para senti-lo.

domingo, junho 23, 2013

Tentativa

Pela terceira vez, esta folha escrita é invocada. Pela terceira vez, a folha encontrava-se em branco e por duas destas três vezes, em branco foi mantida e descartada. Três vezes é sinal que tenho algo a dizer, apenas não sabia ainda bem o que, nas duas primeiras vezes que me decidi a desistir.

O que falta na ponta dos dedos que escrevem estas ideias soltas, não são temas para serem postos em papel. A primeira ida à praia do ano, após um confronto interno sobre a questão do ir ou não ir. Os amores e desamores de quem se senta sistematicamente numa das pontas da quadrada mesa que se instala no café... ou os amores e desamores de quem apenas agora se começa a sentar... ou os amores e desamores de quem decidiu, por amor, deixar de se sentar... ou os amores e desamores de quem, por vontade, opção ou proibição, nunca se sentou.

Muito amor e desamor anda por aí...

quarta-feira, junho 19, 2013

Eureka

Há dias, em que o barulho do tiq-taq é oprimido pelo silencio da voltagem aplicada à tina onde moléculas de DNA são empurradas-puxadas ou pelas forças Gs provocadas pelo girar energético de uma centrifugadora.

Por vezes, perco-me nos quilómetros que piso entre os dois laboratórios que se separam fisicamente por meia dúzia de metros. Num dia em que 8 horas são passadas a fazer os mesmos procedimentos, com um sucesso apenas parcial, esqueceria-me de almoçar se não fosse o convite dos meus colegas. E como só somos convidados para algumas coisas, muito daquilo que é fundamental, mas pessoal, fica esquecido, como beber um copo de água, ou subir as escadas que me levam à wc.

E tudo até poderia ser, de uma forma ou de outra, uma coisa gira. Uma aproximação à minha vontade de ser realmente um cientista maluco (e lunático)... mas para isso é preciso que as coisas funcionem bem para que eu não passe pelos corredores irritado com o sucesso que não chega, mas que os passe sim, aos pulos, a gritar Eureka!

sábado, maio 11, 2013

Evolução

A mesa do café onde me reúno de demasia em demasiado tempo com os meus amigos, vai vendo os seus lugares serem ocupados aos poucos. Uma vez ou outra, junta-se à volta da fogueira inexistente uma pessoa que não foi previamente convidada: um encontro do acaso, que reconhecemos e que convidamos naquele momento para se sentar e pôr a conversa em dia... e normalmente, nestes casos há uma extensa conversa para ser posta em dia, normalmente com pontos de vista, vivências e opiniões bem diferentes daquilo que eu vejo, vivo ou penso.

Assim, fala-se de tambores gritantes, carroças musicais e ranchos populares tudo no seguimento do convite para comemorar uma festa de anos de um grupo que não me agrada, rodeado de uma bebida que não me mata a sede. Recuso o convite numa nota mental e digo oralmente que vou ver se consigo ir. Não fui!

Disse escrevendo, José Saramago, que contar dois acontecimentos que tenham ocorrido ao mesmo tempo é injusto para um deles, porque acaba por ser contado sempre em segundo lugar... Apesar disso, deverá ter sido à mesma hora que a festa estoirava na tenda ao lado do mercado que eu me apercebi de mais um fantástico e poderoso mecanismo de segurança do nosso pensamento.

Eu não vou à festa da carroça, da mesma forma que o bailante não trabalha para ganhar um prémio Nobel (bem, na verdade nem eu... mas gostava). Num instante, porque o pensamento tem a capacidade de ocorrer num espaço de tempo tão curto que as imagens quase surgem ao mesmo tempo, caras familiares lembram-me momentos pontuais da nossa vivência em conjunto. A ideia relembrada é de que "não vou conseguir, para que tentar?"

Quantas coisas recusamos à partida por sabermos que não somos capazes de as atingir? Encostamos-nos à sombra de uma ideia abanada, para não termos o desprazer de fracassar no caminho, de nos ferirmos na batalha ou de morrermos de bandeira branca erguida. Parece que nós mesmos, nos metemos a nós próprios apenas onde nós conseguimos nos superar... tudo o que for superior a isso é por nós imediatamente recusado. Quando mais acessível for o objectivo, menor a queda em caso de queda.

A questão em que interessa ainda pensar é quantas são as coisas que perdemos, por não nos metermos na posição em que nos devíamos ter metido? Corremos o risco de estagnar, se não esticarmos o pescoço o suficiente para chegar às folhas que estão onde apenas as girafas chegam. No que toca ao nosso desenvolvimento pessoal, intelectual e social, pelo menos... pelo menos a estes, as ideias Lamarquistas não são assim tão disparatadas.

segunda-feira, maio 06, 2013

P'la estrada fora

Qualquer que seja o motivo que me põe de pé no chão, a percorrer a estrada fora, viajo, quase sempre sozinho. Acompanha-me o GPS no bolso, ou o cansaço no corpo, ou o desejo numa mão que não está ligada a ninguém.

domingo, maio 05, 2013

Anestesia mental

Tenho um problema quando a dimensão da essência que me é arrancada é tão grande, que deixo de pensar. Pareço consumido pela grande casa fria, que, apesar de acolhedora, gela-me. Apercebo-me que sigo em modo de piloto automático, por entre os corredores longos de portas encostadas. Alheio a sentidos com sentimentos, alheio a pensamentos. Perco a condição de vida consciente quando sou conduzido entre as salas que me fazem deixar de pensar. Perco a condição de vida, quando nem ao instinto reajo, quando apenas sigo o rebanho, sem ser ovelha, sem ser pastor, sem ser cão, ou sem ser qualquer outro elemento deste quadro.

Sem pensamento, simplesmente deixo de ser.

Sempre admirei a capacidade humana de criar moribundos no momento certo. Ao menos, quando o cérebro se desliga e se anestesia do sentido de quem somos, evita um sofrimento maior. Sempre achei consolador, saber que quando não tiver capacidade para cuidar mim, não terei consciência de mim mesmo, como se um penso anti-dor fosse colado no meu orgulho. Agrada-me saber que tenho a aptidão para ser zombie quando sou raptado para junto de onde não pertenço.

segunda-feira, abril 29, 2013

Ir

Levem-me para onde o silêncio é o único som que se ouve, para que me possa deitar a contemplar o candeeiro de pontinhos brilhantes que se instalou por cima de nós.

Por vezes surge a vontade de saltar a janela e fugir. Fugir não de uma prisão, porque preso não estou, mas para uma liberdade mais envolvente, mais quente e mais acolhedora. Saltar a janela apenas para ficar logo envolto no meu novo reino, sem ter de aumentar a espera para contornar a porta.

Será a mesma imaginada voz que chamou Cote para o poço que inicia a subida ao serro do nome do rapaz, a voz que me chama a mim para a rua? A ser, desta vez, será certamente para me levar a um sítio melhor...

Conduz, sai dessa luz artificial e vem para o escuro da serra, para a brisa do mar, para a luz das estrelas. Vem... vem respirar o mundo a cada inspiração.


Relembro para aqueles que se já esqueceram e invoco aos que desconhecem: Serro do Cote

sexta-feira, abril 19, 2013

Pára, aumenta o som e volta atrás...

... Acabaste de mergulhar numa onda ritmada de sensações. Sustem a respiração para viveres num momento de puro êxtase criado na playlist que toca no fundo. Nada de braços no ar ao som da vibração que te embate no ouvido. Fecha os olhos ao cloro que te poderia entrar e trazer de novo para o mundo. Sorri, para mostrar o desejo que vives...

E quando a música acabar, abre os olhos e prepara-te, porque a seguir a cada onda, uma nova onda vai-te submergir.

domingo, abril 14, 2013

Liberdade opressiva

Procuro no telemóvel por de quem já eu não sei há um período de tempo considerável, para compensar uma presença anunciada que se deveria querer fazer sentir.

Estou por minha conta, envolto numa liberdade forçada que me prende a boca como se esta nunca pudesse ser aberta, nunca tivesse sido aberta e não se voltasse a abrir nunca mais.

Acalma-me o piano que geme harmoniosamente a cada toque da pianista que o guia. Pudesse eu ser um grão de pólen para partir, de olhos fechados, onde me levaria o ar que transporta cada partícula sonora que me serena do suicídio em que me encontro. Fosse eu pólen de ouvidos para não deixar de ser guiado por este som.

Preso a uma cadeira na qual ainda não estou sentado, a lutar para não gritar... a lutar para não lutar. A lutar para ter paz. A lutar para não perder a razão num imaginado mundo sem razão.

Olho para o outro à procura da minha utilidade, de um caminho que me possa levar para fora, para longe da ideia da premonição, para longe daquilo onde me querem, mas onde eu deixo de ser.

Percorro um túnel de morte, escuro, triste, amargo, oculto, que me leva, não para o conforto do descanso, mas para mais um episódio de flagelação.

Torno-me um zoombie num culto de amor doente, opressivo e apenas incondicional dentro das regras que o condiciona.

quinta-feira, março 21, 2013

Hora do planeta

As preocupações ambientais deviam estar cimentadas em nós, para que fossem ponderadas constantemente no dia-a-dia. Dado que nem sempre isso acontece, porque não dedicarmos 60 simbólicos minutos a isso? A hora do planeta celebra-se dia 23 de Março entre as 20:30 e as 21:30. Vamos apagar as luzes e acender consciências?

sábado, março 16, 2013

Tatuagem

Todos os dias cruzamos-nos com outras pessoas. A maior parte desses encontros acidentais são com pessoas que nunca vimos e que provavelmente nunca iremos ver. Mas outros são o resultados de duas montanhas russas a chocarem uma contra outra. Nem sempre o choque é violento, mas por vezes... Por vezes é tão simples como o motorista do autocarro que nos conduz segunda-feira sim, quarta-feira não. Por vezes é um pouco mais forte, como o investigador de outro país que mais tarde descobrimos ter ferramentas úteis para o nosso projecto. E sem querer, de tempos a tempos, o choque é tão grande que paramos para olhar à nossa volta e ver os danos causados.

O velho que dá corda aos relógios incansáveis, tem a seu poder a capacidade de ir removendo os restos destes confrontos. Aos poucos, o metal retorcido criado com a pancada (pancada essa por vezes muito positiva), vai saindo de cena. Sempre aos poucos, parafuso a parafuso... Quando voltamos a levantar a cabeça de nós próprios para olharmos em volta, o cenário está limpo, como se nunca nada tivesse acontecido ali.

Efémera, a recordação desvanecesse. Ora porque a memória fracassou, ora porque o gira-discos já não toca discos, ora porque a cor da fotografia esbateu.

Como se marca uma pessoa? Como se faz com que uma pessoa se mantenha tão viva em nós, como nos nos mantemos vivos em nós mesmos? E como imprimimos essa vivência nos outros?

quarta-feira, março 06, 2013

Vamos lá pôr o ponto no i de Igreja.

Sou ateu! Como já dei a entender, comecei a fazer o crisma. Sentado numa cadeira ao lado de mais 84 pessoas, assisto aquilo que, pela cara de cada um, é um fascínio. Não para mim.

Fala-se muitas vezes que o crisma é o tornar-nos adultos na fé... é uma confirmação. Aceito e subscrevo ambas as definições. Na verdade, eu mesmo, ateu estou nesse percurso. Também eu estou conscientemente (adulto) a confirmar a minha fé. Mais que isso, estou a confirmar que não quero pertencer à igreja! Não quero. Mais do que ser ateu, sou alguém que decide (por pensamentos lógicos) não querer ser parte "daquilo". Mais do que ter fé ou não, eu não quero, nunca, pertencer ao mundo da igreja. Nunca! E este nunca é tão gritante que eu sei, porque sei, que se algum dia eu vier a sentir "fé", nunca será na igreja que eu encontrarei espaço para ela. Sei!

Assim, como ateu, consigo ler algumas coisas nas entrelinhas. À pergunta "porque sigo Deus?", surge muitas vezes a resposta "porque sou feliz". As idas à igreja devem acontecer mesmo que estejamos com preguiça, para não nos afastarmos, porque e voltando à ideia anterior, sem Deus ficamos infelizes. Pois bem, eu sou ateu, recuso-me a levar Deus seja para onde for, quando entro numa igreja entro contrariado e ainda assim considero-me muito feliz. Brutalmente feliz.

"Se me cruzar com uma pessoa e me der só a mim, que pobre é esse encontro. Porque não dar também um pouco de Deus?" Falta de confiança. Arrebatadora! Eu entrego-me a mim de alma e coração a quem eu penso merecer-me de alma e coração. "Que triste é aquele que só se entrega a si!" E que triste é aquele que não se considera suficiente!

"Posso levar Deus comigo para onde quer eu vá, espalhando bondade e sorrisos pelos outros". Ainda bem que eu não referi que sou ateu, se não criava-se certamente um círculo à minha volta com medo que eu contagiasse alguém. Também eu sou simpático e também eu tenho valores (já lá vamos), e consigo te-los por mim, e não por intermédio de ninguém. Disse um dos padres, que tudo o que vem de bom pela mão das pessoas, mesmo dos ateus, é obra do espírito santo. Que felicidade pode uma pessoa ter consigo, se acredita que nunca fez nada de bom por sua própria opção? Que cruéis somos todos! No fundo, todos somos terríveis e apenas fazemos cosias boas porque somos guiados. Ou então não!

Num dos almoços, na outra ponta do relvado, ouve-se dizer "eu voltei para a igreja porque o mundo em que vivemos não tem valores". Então eu, ateu, não tenho valores? Eu não sei o que é bom ou errado? Eu não sei o que é ajudar?

Tão cego é o cego é que não quer ver tal como tão lunático é o visionário que apenas ve!

terça-feira, março 05, 2013

Penso logo... suporto!

Há uns dias atrás, enviei uma mensagem escrita na qual escrevi apenas "Tenho saudades de pensar". Não é que não pense se devo apanhar ou não aquele autocarro, se devo meter o gráfico com barras verdes ou cor-de-rosa choque, ou qualquer outro tipo de pensar. Na mensagem tinha a ideia de dizer que tenho saudades de ser desafiado intelectualmente. Se a memória não me prega uma das suas, foi a actriz Rita Salema que, sentada no sofá do programa 5 para a Meia-Noite, guiado por Filomena Cautela, respondeu de forma brilhante à pergunta "Onde mais gostas que te toquem?". "No cérebro."!

No fundo, gosto de ser sistematicamente desafiado, mas subtilmente para que eu não perceba que me enfiaram num caminho estreito, e no qual eu não tenho o controlo dos acontecimentos. Sobre a necessidade de controlar os acontecimentos, teríamos letras, palavras e linhas para incontáveis posts, pelo que vou contornar o problema. Voltando: pensar!

No fundo, a ideia é agarrar em algo que não esteja cimentado nos alicerces do meu saber, e esmiuçar cada uma das vertentes da teoria até ela estar moldada. Depois, cola-se com super-cola-3 a conclusão no placard de inteligência que, ainda que muito despido, está instalado algures dentro de mim.

Para mim, como um descrente na igreja crista (mais do ateu), sentar-me numa cadeira de uma sala a ouvir um padre falar sobre a importância do crisma é um tédio, apenas suportável (e agradeço que não confundam com aceitável), porque entre tamanho conjunto de disparates proferidos, lá sai algo daquelas bocas que me provoca um arrepio tão grande, um choque tão violento, que para além de me abananar as entranhas, chocalha-me as ideias. E assim, enquanto eles rezam à virgem que se calhar não interessa se era virgem, eu penso!

segunda-feira, março 04, 2013

Cheguei... (outa vez...)

Eis, ainda aí estão? Grandes malucos, ficaram sentados "cá em casa" enquanto eu me ausentei por este tempo todo! Vá, que eu vou escrever aqui umas maluqueiras para publicar amanha, pode ser?