quinta-feira, setembro 25, 2014

Fugir pela Janela

É estranho pensar que esta pode ser a última vez que desligas a luz e que espreitas pela janela que se mantém firme sobre ti. Quantas imagens podemos gravar para sempre na nossa memória? Na última vez que olho pela minha janela o mundo oferece-me um presente, uma vista mais bonita ainda. A chuva que empurrou o verão para outro lugar, fez nascer erva verde no terreno em frente, mas o frio da noite, ajudou a criar um nevoeiro místico e sombrio.

E as saudades? Será que alguma vez me vou lembrar do cão que ladra na casa da rua em frente? Quanto tempo vai passar até eu sentir falta desse ladrar pesado, de cão maduro e já um pouco cansado?

Os pés parece que ganham chumbo... não pela inércia de caminhar face às próximas etapas, mas sim uma aversão por perder o que tenho. O mundo lá fora avança, e a vista da janela mudará sem que a veja a mudar... Vou ter claramente saudades de viver onde me conheço suficientemente bem para que o terreno possa ser apalpado de olhos fechados. Até as árvores têm pena quando se mudam, tanto que sempre que podem, lançam raízes profundas pelo solo, para ali ficarem prezas para sempre e quando as cortam, há-de lá ficar sempre um pouco da sua marca, nem que seja a ponta da raiz.

Inspiremos novamente o ar que vem da janela...