quarta-feira, abril 25, 2012

98!

Nos fins de tarde, três bicicletas fazem-se à estrada. Não ficam encalhados, os viajantes mas é ao Encalho que se dirigem. Num dos muitos entroncamentos do caminho, uma galinha jaz morta dentro de um saco de plástico... suspeita-se de bruxaria e pelo sim, pelo não, ali não é lugar para descansar...

Num dos fins-de-semana há festa na aldeia. Dança-se ao som de músicos populares, enquanto se inventam prémios para rifas premiadas, mas cujos prémios já foram entregues, em outros prémios inventados.

Por entre namoros e namoricos, surge a primeira paixão de infância. Um pouco forçada, é verdade, mas o importante é não sermos os únicos sem namorar! Músicas são rescritas, mas sem sucesso. Não faz mal, é uma paixão a fingir!

Numa noite, a história de terror que acaba com o fantasmagórico sou, mas que já não me recordo, é contada, no largo da igreja não utilizada, ao lado da qual repousa um cemitério sem mortos. Mesmo assim, sem mortos, o grito ecoa na aldeia... Não foi muito longe desta noite, que as histórias de OVNIs foram o foco da atenção do grupo. Tal como a presença do cemitério sem mortos fez soar o grito, o avião a piscar no céu, fez a lágrima cair de medo.

O capôt do carro, ao lado da casa, é ideal para nos deitarmos. De noite, lá em cima, as estrelas ganham vida, caindo no leito da morte, enquanto cruzam os céus, num derradeiro grito de mortalidade que nos apaixona.

Em frente do café cujo nome remete para a cidade dos estudantes, passa a estrada dos carros velozes. Alguns de vidros fechados outros com estes abertos, mas sempre com o objectivo de arrefecer os ocupantes do calor que se sente no meio do Alentejo.

A mesa do canto é nossa há imenso tempo. No caminho, a cabine telefónica foi usada para brincadeiras a pagar o destinatário. Por vezes, quando as saudades apertam, o número que paga no outro lado da telefonista, é aquele por onde se ouve as vozes familiares, que estão longe...

Ás vezes, ainda tenho água nos ouvidos, dos mergulhos que dei à tarde na piscina. Uma ou outra vez, sinto mesmo a vista esbranquiçada, mas não me preocupo, porque deve ser do cloro. Hoje, prometo a mim mesmo que amanha não mergulho de olhos abertos! Escusado será dizer que amanha já não me lembro da promessa...

Depois da saída e depois de atravessar a estrada, acampa-se na horta adjacente à casa. Duas visitas saltam o muro ou portão, consoante a proveniência, apenas para fazer o serão. Na noite em que o acampamento não é nosso, uma persiana acaba por se partir, no desespero de avisar os invasores que a costa está ocupada. Em São Torpes dorme-se ao Sol, para recuperar da noite não dormida. Às 6 horas foi a alvorada do homem de tronco nu que se assomou à janela na noite anterior.

Quando a vontade não nos leva a Coimbra, um poço já não usado pode ser solução. Ou o parque que agora tem carroceis, mas que antes já não tinha, depois de já os ter tido. Ou a escola que está fechada para férias. Ou qualquer outro sítio onde uma reunião de gargalhadas possa acontecer.

Quando o João chama e a tenda não é palco da noite, o quarto dos fundos é o lugar para o repouso. O caminho até lá é feito pé-ante-pé, porque ali mesmo ao lado já se dorme e com o calor do verão, a porta está aberta. Mesmo antes da luz se apagar e já depois da paragem na WC, Os Anos Amargos de Adrian Mole são contados... ou serão as aventuras do Ricardo, o Radical? Acho que se pensar bem, oiço ainda algumas Vozes e Ruídos...

Ahh, tantas são as memórias já esquecidas!

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