domingo, maio 06, 2012

(des)Integração (Uma história vaga - II)

Em 2005, e mesmo antes, o desenho que aqui está ao lado, era o tipo de desenhos que me entretinham quando uma aula era demasiado chata para merecer a totalidade da minha atenção. Nunca soube a razão exacta de fazer estes desenhos, mas não sei fazer formas bonitas, nem sei fazer poemas, nem sei fazer nada do que as pessoas normalmente fazem numa aula demasiado chata para merecer a totalidade da nossa atenção. Penso que talvez tivesse sido esse um dos motivos para começar a fazer estas formas, mas mais do que isto, sentia que me acalmava, ao fazê-las. Era tranquilizante. Numa das aulas, perguntaram-me o que significava. Não sabia... não sei... São formas que me apetecem fazer quando estou aborrecido, triste, descontextualizado. Sugeri levar um dia aquelas formas a um psicólogo e pedir a opinião, mas nunca o fiz e hoje em dia, desenhar formas já não faz parte das minhas actividades. Apesar de não saber porque as fazia, porque me reconfortavam ou o que significavam, tenho um palpite da sua razão de ser. Segundo a pessoa que me perguntou o que significavam, sugeriu que fosse uma forma de expressão, na qual eu afirmava que não me conseguia encaixar no meu espaço. De facto, as extensões das formas tentam encaixar-se, mas sem sucesso.

O problema da integração é-me bastante crítico. É-me muito difícil sentir totalmente parte de um grupo e portanto são muito poucos os grupos que conseguem tal proeza, não que os grupos aos quais pertenço sejam discriminatórios ou algo relacionado, mas porque eu não me encaixo dentro deles. É um problema meu, uma falha minha!

Pior do que não me conseguir integrar num grupo, é passar a estar desintegrado de um grupo ao qual já pertenci. É estranho não conseguir encontrar os temas certos para aquela mesa de convívio, olhar para o relógio quase sistematicamente à espera que outras pessoas que nos acompanhem sintam que está na altura de voltar, sentir um desconforto gigantesco ao estar envolvido num evento que conheço desde que me conheço como partícula pensante. Ainda pior do que sentir essa desintegração, é ver que pouco mudou e aquilo que mudou deveu-se sobretudo ao tempo, esse idoso de barbas cinzentas, que faz soprar os ponteiros do relógio num ritmo mortalmente constante e desgastante.

É verdade que sei o que podia fazer para me voltar a integrar, mas sei, sem pesar muito, que não quero. O tempo afastou-nos, num contínuo espaço-tempo, em que o espaço é mais social do que físico. Não gosto dos temas das conversas, não gosto dos rituais, não gosto do tom! Não sou eu!

Tenho uma enorme tristeza desta distância. E tal como antes não sabia nenhuma forma de me expressar numa aula, hoje sinto ainda falta de um modo de expressar esta tristeza. Pelo menos escrita...


Recordo... Uma história vaga

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