Vivemos num mundo competitivo. Toda a natureza é assim, apesar de raramente nos deixar ver essa faceta. Sabe bem relaxar ao som de uma cascata longínqua, porém, à volta dessa cascata, toda a natureza, pelo menos aquela que é viva e que eu conheço melhor, está em luta. As plantas, no geral, lutam para terem mais um raio de sol que a sua vizinha, os animais por mais uma migalha de alimento, as bactérias, os vírus e muitos fungos por mais um hospedeiro que o alimente a custo reduzido, ...
A natureza está viva e compete. Aqui, quem não está pronto para lutar morre, aniquilado pelos seus vizinhos mais fortes.
A formação em biologia ensinou-me que estamos muito mais perto de seres selvagens pertencentes à natureza, do que aquilo que pensamos, ou que seria de desejar. Lembro-me hoje disto, porque vejo esta luta entre nós. Queremos ser mais engraçados que o outro, mais inteligentes, maiores (mesmo em termos físicos) e melhores no sentido geral. Aqueles que não lutam ou que apesar de lutarem não conseguem atingir os objectivos são friamente postos de lado. Somos selvagens para com nós mesmos!
Fico sem perceber qual o nosso lugar dentro dessa grande esfera natural. Se por um lado somos animais sociais, que dependem uns dos outros, e dependemos, por outro passamos todo o nosso tempo em luta. Provavelmente é essa mesma a ideia. A natureza procura a evolução e apesar de não desejar a perfeição, leva-nos a um óptimo ideal. Talvez a solução seja mesmo esta. A aniquilação dos menos aptos, ocorre nas nossas pequenas lutas, na escolha do perfume, nos óculos, no nosso carro, ou mesmo no gel de cabelo que usamos quando saímos de casa, para referir apenas as lutas que talvez seriam menos óbvias. Se calhar a natureza aproxima-nos para nós nos afastarmos, escolhendo quais os melhores e caminhando assim para o equilíbrio desta fisiologia natural.
Sou pelos mais fracos, pelos oprimidos e pelos renegados, talvez porque me sinto um deles, mas não me agrada ler esta sentença natural. Surge então uma outra dúvida: O que acontece a quem luta contra a corrente?
O mundo devia ser suficientemente grande para cabermos todos cá dentro...
Estão sentados no cinema, a ver um filme (normalmente de época) onde um herói tem de levar algo de um sitio seguro até a um destino longínquo, onde pelo caminho imensos problemas podem acontecer. Na segunda metade do filme, haverá uma cena em que o plano é gravado de cima, vê-se no canto inferior esquerdo do ecrã o homem a aparecer de cavalo, acabado de subir a última montanha antes de atingir a meta. Nesta altura, a música que toca pelas colunas é assim como que majestosa, com uma orquestra brilhante e um coro de cortar a respiração.