De barriga para cima, vejo estrelas. A luz da rua não me dá uma grande visão e acabo por não ver nenhuma a cruzar os céus.
Lembro-me do carro que todas as noites chegava à mesma hora. Os dois ocupantes ficavam a conversar protegidos pelo silêncio dos vidros e alheios ao meu olhar de cima. Amantes certamente, ou pelo menos esta é a melhor justificação para ali pousarem os pombinhos, antes dela sair e se deslocar a pé 2 quarteirões e por fim entrar no seu prédio, não sem antes acenar ao seu companheiro de viagem que passa de carro, abrandando ali. Imaginação, certamente, que a visão não me chega tão longe, mas há um sorriso naquele rosto!
Vivo numa altura em que não preciso de meditar, porque tenho a minha varanda. Torno-me naquilo que sou, ao tomar as mais importantes decisões que tomei até hoje. Pensei e com o meu pensamento moldei a minha personalidade. Decidi como seria e sempre que o desejo era inalcançável, aprendi a viver a comigo mesmo. Dentro do meu próprio corpo. Ao fim e cabo, ninguém disse que já nascemos a saber viver.
Decido que quero pensar e penso. São minhas testemunhas as estrelas, e, uma vez por mês, uma lua cheia. Não sabem, nem querem saber sobre o que penso eu. Muitas das vezes nem eu sei sobre o que penso. Deixo-me ir. Ali, na varanda do terceiro andar, deitado, sou livre. Posso voar para onde quiser e deixo-me ir. Não sou levado pelo vento, porque essa não é a minha vontade. Sou suficientemente livre para não ter de ir ao sabor do vento. Vou por mim. Vou pelo que quero, como quero e quando quero. É o meu cérebro que me leva. São as minhas sinapses, mudas mas luminosas, alheias aos elementos que me rodeiam.
Pensar! Onde quer que estejamos e qualquer que seja o momento e as consequências desse ato, pensar, só pode ser uma virtude... e se ao pensar perdemos aquela oportunidade, então que pensemos mais um pouco. Porque pensar é sabedoria. Porque para a próxima é só pensar na escolha certa, na lição aprendida e sabida.
Sábios e virtuosos são os que pensam, bem ou mal, porque pior do que pensar mal, é não pensar!
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